Mulher que matou marido e escondeu corpo em freezer é presa em SC após 2 anos em liberdade
02/06/2025
(Foto: Reprodução) Claudia Tavares Hoeckler chegou a ficar presa, mas teve a liberdade concedida em 2023. Mulher afirma que morte foi motivada por violência doméstica. Claudia Tavares Hoeckler, acusada de matar o marido, Valdemir Hoeckler
Reprodução/Redes Sociais/Arquivo/NSC TV
A mulher acusada de dopar, matar o companheiro e esconder o corpo dele dentro de um freezer em Santa Catarina foi presa preventivamente dois anos após o crime, descoberto em 19 de novembro de 2022. A decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi cumprida no sábado (31), segundo o Ministério Público de Santa Catarina, responsável pelo recurso.
Claudia Tavares Hoeckler confessou o crime e chegou a ficar detida entre novembro de 2022 e agosto de 2023, quando teve a liberdade concedida sob condição do uso de tornozeleira. O assassinato de Valdemir Hoeckler aconteceu em Lacerdópolis, no Oeste.
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
Ele tinha 52 anos e foi achado na residência em que o casal vivia após ficar cinco dias desaparecido. A denúncia descreve que Claudia dopou o marido, amarrou os pés, pernas e braços dele e o asfixiou com uma sacola.
Na época, a mulher se entregou à polícia. Ela e a defesa afirmam que a morte foi motivada por sucessivos episódios de violência doméstica, com agressões físicas, psicológicas e financeiras ao longo de mais de 20 anos.
O MPSC informou que recorreu ao STJ, pedindo novamente pela prisão, sob o argumento de que "mesmo que estivesse supostamente vivendo em um ambiente de violência doméstica e familiar (ponto ressaltado pela defesa), há evidente desproporcionalidade entre tal contexto e o crime praticado contra o cônjuge".
A autorização da prisão ocorreu na sexta-feira (30), após o STJ aceitar de forma monocrática pedido de prisão feito pelo MPSC ainda em agosto de 2023. A decisão cabe recurso.
O advogado Eduardo Fernando Rebonatto afirmou que irá entrar com recurso contra a prisão da mulher nesta segunda e busca uma análise colegiada do STJ (leia a íntegra da nota no fim do texto).
Lesões no corpo
Na época do crime, Claudia foi até a delegacia e prestou depoimento. Na ocasião, conforme o delegado Gilmar Antônio Bonamigo, não era considerada suspeita. No entanto, os policiais perceberam ferimentos pelo corpo dela, "possivelmente de uma luta corporal".
Corpo de homem é encontrado dentro de um freezer em SC
O QUE SE SABE: Homem encontrado morto dentro de freezer
'Possível luta corporal', diz polícia sobre lesões em suspeita de esconder corpo em freezer
Tribunal do júri
Claudia irá à júri popular, conforme determinou a Justiça de Santa Catarina. Ela responde por homicídio duplamente qualificado, ocultação de cadáver e falsidade ideológica. As qualificadoras são asfixia e emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima.
O processo tramita em segredo e a data de sessão do tribunal do júri ainda não foi marcada.
O que disse a defesa
A defesa de Claudia Fernanda Tavares vem a público manifestar sua perplexidade e indignação diante da decisão do Superior Tribunal de Justiça, que, após inúmeros recursos do Ministério Público, determinou, no dia 30 de maio de 2025, o restabelecimento de sua prisão preventiva. O que está em jogo neste momento transcende os limites de um processo penal: trata-se do direito de uma mulher reconstruir a própria vida depois de décadas de violência.
Claudia esteve em liberdade por quase dois anos – de agosto de 2023 a maio de 2025 – cumprindo rigorosamente todas as medidas cautelares impostas pela Justiça, trabalhando em três turnos para garantir o sustento de sua família, comparecendo a todos os atos do processo e vivendo com dignidade ao lado da filha.
Neste período, não cometeu qualquer infração penal, não violou nenhuma condição imposta pelo Judiciário, tampouco apresentou qualquer risco à sociedade. Ainda assim, vê-se agora diante de uma decisão que ignora sua trajetória recente e a realidade concreta de sua vida.
É necessário dizer com todas as letras: Claudia foi vítíma de violências domésticas – física, psicológica, sexual, moral e patrimonial – ao longo de mais de vinte anos de convivência com a vítima.
Sua história é a de milhares de mulheres brasileiras que, mesmo após romper ciclos de agressão, continuam sendo punidas por sobreviver. A defesa já está tomando todas as providências jurídicas cabíveis para reverter essa decisão, confiando que o Judiciário, através de uma decisão colegiada, será sensível ao novo contexto e à realidade de uma mulher que, mesmo marcada pela dor, não se rendeu ao desespero. Claudia merece seguir em liberdade – não como um favor, mas como expressão de justiça.
A sociedade brasileira não pode aceitar que a prisão preventiva se transforme em puniçãoantecipada, especialmente contra mulheres que, como Claudia, lutam todos os dias para reerguer suas vidas.
Os advogados permanecem à disposição da imprensa e das entidades de direitos humanos para esclarecimentos adicionais.
Eduardo Fernando Rebonatto
Matheus Molin
Tiago de Azevedo Lima
Eduardo Rebonatto
✅Clique e siga o canal do g1 SC no WhatsApp
VÍDEOS: mais assistidos do g1 SC nos últimos 7 dias
.
Veja mais notícias do estado em g1 SC